sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O professor que eu quero ser.



Desde sempre acredito que sou produto da influência exercida pelas pessoas que me rodeiam, das experiências que tive, do meio que em que vivo, no entanto nunca soube explicar o que isso significa e entender esses elementos como fatores constitutivos do meu caráter é um passo fundamental para estabelecer o papel que pretendo cumprir enquanto professor.
Entendo também que é básico compreender a realidade atual e os seus atores, seguindo esta linha de raciocínio volto meu olhar para ela e o cenário que vemos não é dos melhores e não é necessário ir longe para observar isso.
De norte a sul existem “dificuldades” (para ser bem generoso) no que diz respeito ao exercício da arte de lecionar, em maior ou menor número o descaso pode ser visto partindo dos banheiros mal cheirosos das escolas de Pernambuco até chegar ao sistema de aprovação progressiva instituída pelo governo da “TUCANALHA” em São Paulo desde os tempos do “impoluto” Mário Covas.
Porém a critica ao atual sistema de ensino estaria incompleta se deixarmos de lado a SOCIAL-DEMOCRACIA PETISTA que ao assumir o poder vem realizando uma intensa ofensiva contra as universidades públicas através da ilícita apropriação de bandeiras históricas do movimento estudantil como a “expansão” e a “democratização do acesso”, o governo Lula quer claramente adequar as Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) às exigências do mercado.
Na prática estas universidades serão imensas “fábricas” de mão de obra barata e desqualificada o que está sob medida para um mercado altamente precarizado.
Este cenário é bastante similar ao que ocorre em grande parte das universidades particulares onde já contamos com os “ciclos básicos de terminalidade breve” que são na verdade os cursos de curta duração.
Deste contingente uma minoria de alunos poderá se desenvolver, porém a grande maioria estará fadada aos subempregos e ao desemprego portando diplomas de segunda linha e que não acrescentarão em nada.
Não por um acaso podemos observar no ENEM 2007 que quanto mais ao sul do pais melhor o desempenho, seria casualidade que é nesta região que temos o maior contingente operário brasileiro?
Outro elemento fundamental desta política é a transferência de recursos para a iniciativa privada através de programas como o PROUNI que tem dupla função, em primeiro lugar fortalece a iniciativa privada que ao receber os recursos que poderiam ser perfeitamente empregados na expansão das universidades públicas colaboram para a deterioração das mesmas e isso é uma maneira indireta de privatização do ensino superior por outro lado tem a missão de servir de propaganda político eleitoral, pois estes programas passam a falsa idéia de inclusão quando na verdade apenas uma minoria ingressará nas universidades.
Mas porque eu disse tudo isso se o tema é o professor que eu quero ser?
Simples, somos legítimos herdeiros desta realidade ao mesmo tempo em que somos produtos dela, vivemos em uma sociedade que nos concebe enquanto massa de manobra, mão de obra, no máximo espectadores a margem do centro decisório e político.
Minha formação não é diferente, tenho procedência em uma família de classe média baixa, estudei a vida toda na rede pública municipal e estadual, tenho que pagar pelos meus estudos, sou negro como quase 50% da população, acordo todos os dias as 05h30min e chego em casa por volta de 21:00 hs quando começo a estudar indo dormir por volta de 01:00.
É sob esta base que vou me constituir professor e neste contexto tenho dois caminhos, posso me adaptar ou me rebelar, optei pela segunda ainda que tenha pela frente um caminho mais tortuoso,na condição de trotskista, Marxista e portanto revolucionário entendo a educação como uma trincheira de guerra entre a massa trabalhadora e a burguesia sendo assim a minha idéia como educador será subverter a lógica judaico- cristã prevalente no sistema capitalista que estamos submetidos, pretendo romper com os signos burgueses que orientam e determinam nosso comportamento, a idéia é mostrar a essencialidade de uma visão alternativa e de um posicionamento classista frente ao aparato da elite burguesa e sua propaganda ideológica.
Pretendo ser mais que um professor, quero ser um professor/pesquisador, um pensador da educação e da sociedade unindo arte
Sei que essa tarefa não se dará do dia para noite e que precisaremos de gerações e mais gerações para reescrever esta história, porém a consciência de que “serei eu” (como parte de um corpo muito maior) que conduzira as próximas gerações a essa ruptura me impulsiona, me motiva, me emociona.

Referência ao filme "Pro dia Nascer feliz." de João Jardim

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